segunda-feira, 23 de julho de 2012

Acalmar os "mercados", esquecer as Pessoas!

Mercado é aquele sítio onde se vai para comprar alimentos, roupa, móveis e outras coisas desse género.  Contudo, parece que no século XXI é também um sítio onde se vai comprar dinheiro, trocar, investir ou especular. Pois meus caros, parece que a grande maioria da humanidade só conhece os de primeiro tipo e não os de segundo: os mercados financeiros.Mas os de segundo tipo, os ditos financeiros conhecem-nos muito bem.Sabem como nos vamos comportar agora e no futuro e ficam "nervosos" quando não temos o comportamento adequado. E nós, pobres crianças mal-comportadas, temos de pedir perdão e prometer-lhes que vamos nos portar melhor da próxima vez. A isto chama-se " acalmar os mercados".
Agora, há aqui duas questões interessantes. A primeira: é quem votou nos mercados?  Num Estado democrático, como o nosso e da maioria dos países Ocidentais, é-nos dito que o nosso voto é expresso  no melhor candidato ou no melhor programa governamental.Não, não li, em parte alguma em qual dos mercados terei de  votar. E a qual deles devo obediência e terei de "acalmar" .
Ora isto é enganador, é a maior das mentiras que existem.  A grande trapaça do século XXI. A maior mentira veiculada pela comunicação social, pelos políticos, pelo burburinho das ruas. E porquê? Porque o mercado financeiro nada mais é que um negócio. E este negócio deveria ser regulado pelos políticos, aqueles em quem depositamos o voto, os escolhidos para aplicar as nossas resoluções humanas, a base da democracia. Para quem já se esqueceu democracia tem como pano de fundo ( cada vez mais fundo) a liberdade, igualdade e fraternidade. Foi o ideal da revolução francesa e se me permitem, a base da nova democracia, aquela que ainda hoje defendemos, pelo menos aparentemente.
E por isso não é aos mercados que devemos pedir nem satisfações nem desculpas. Devemos sim exigir  mais aos políticos que nos governam. E governar é tomar decisões difíceis.  É enfrentar as piores marés quando estas não estão calmas. É ser aquilo que se prometeu ser: governar pelo bem comum. Quem não quer ser político, por favor não seja. Mas quem o decide ser,que o seja na base do que Aristóteles definiu: a ciência da felicidade humana, cuja ética se divide na felicidade do individuo e na felicidade colectiva do grupo de indivíduos. Deveria haver um juramento para quem quisesse ser político, podíamos até lhe chamar o juramento de Aristóteles. A ciência do homem para o homem.  E nesta definição não cabem seres menores dependentes de entidade invisíveis e amorais: os mercados.
Porque os mercados cobram tudo: experimentem não pagar qualquer prestação e verão a disponibilidade dos mercados para "negociar", palavra tão usada pelos banqueiros, os ditos  mentores do mercado financeiro. O "negociar" traduz-se em juros, ameaças, penhoras e outras coisas mais. Por isso nada devemos aos mercados porque lhes pagamos tudo, seja de que forma for.
. Quando a vida nos corre mal os mercados não nos "acalmam". E isso leva-me à segunda questão: em que ética, em que fundamento político, em que valor assenta a frase " acalmar os mercados"? E porque não ouvimos ( esta frase é do maravilhoso professor Roque Amaro) que temos de acalmar as pessoas? Desde quando, a entidade não não conhecemos é mais importante do que a vida humana? Quando se debate tanto o valor da vida ( vejam as inúmeras opiniões pró e contra aborto) não será que acalmar as pessoas devia ser o principal motivo político?
E nós, sociedade civil? Porque não tomamos uma posição política?  Porque nos sujeitamos a " acalmar os mercados e não acalmar as pessoas"?  A partir de que momento ficámos tão aniquilados na nossa  pouca humanidade, naquilo que é o mais profundo de nós, em que momento esquecemos a fraternidade? E em nome de quê? De mercados que não conhecemos? Em nome de quê engolimos a mentira e não lutamos pela restituição do valor maior, a fraternidade? 
Gostava, que como disse Aristóteles que o bem triunfasse. Mas para isso é preciso uma comunidade política. Que somos todos nós. E que pensemos sempre que primeiro se devem acalmar as pessoas.As pessoas!

"Vemos que toda cidade é uma espécie de comunidade, e toda comunidade se forma com vistas a algum bem, pois todas as ações de todos os homens são praticadas com vistas ao que lhes parece um bem; se todas as comunidades visam a algum bem, é evidente que a mais importante de todas elas e que inclui todas as outras tem mais que todas este objetivo e visa ao mais importante de todos os bens; ela se chama cidade e é a comunidade política"( Aristóteles, Pol., 1252a).




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