segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Acabar as férias.. e não voltar ao trabalho.

Consideramos férias aquela época do ano em que terminamos o nosso trabalho, os afortunados recebem o subsídio de férias, e passados alguns dias ou semanas regressamos ao trabalho. Isto são férias. Uma pausa no tempo. Um miminho para os que trabalham. 
Mas férias neste ano de 2012 pode significar, para milhares de portugueses, outra coisa: o início de relações contratuais com a segurança social. Ou seja despedimento. Colectivo, individual, há para todos os gostos e feitios. Isto para quem tiver sido empregado ou trabalhador por conta de outrem. Porque se foi empresário, patrão ou empreendedor como hoje se diz, ou roubou a tempo ou se foi estúpido( ou seja honesto) e como tal ficará sem nada: sem direito a qualquer subsídio, a qualquer ajuda, a qualquer dos seus descontos.
Para a minha geração, férias significam períodos de desemprego. Com contratos temporários, as férias são gozadas quando um termina e a esperança de um novo contrato se avizinha. E, como sortudos que somos, podemos ter férias de um e dois anos. E contratos maravilhosos em call centers e muito bem pagos: 500 euros, upa upa!.Haja alegria!
Mas, para os licenciados em ciências sociais e humanas há agora uma nova esperança: subsídio de Reinserção Social! Sim, isso mesmo. Queres uma oportunidade na área? Pedes o subsídio e podes ser colocado num museu, biblioteca ou seja a prestar um serviço à sociedade.Porque toda a gente sabe que isto de museus e bibliotecas é para tolos e com a quarta classe arquiva-se muito bem e se tiverem o sexto já fazem visitas guiadas. Portanto animem-se, oportunidades de trabalho surgirão! 
Mas a culpa é nossa. Porque licenciados que somos continuamos a fazer trabalho voluntário na nossa área! Perguntem a um engenheiro civil se está a ganhar currículo numa obra! Ora se está!
A verdade é que continuamos calados e submissos. Independentemente da área, da idade, da profissão, continuamos a pensar que a nós não nos calhará tal fado.  E continuamos a estagiar gratuitamente. E continuamos a não exigir bons serviços públicos. E continuamos a ver fechar empresas todos os dias e nada fazemos.
Até quando? 


O trabalho tem mais isto de excelente: distrai a nossa vaidade, engana a nossa falta de poder e faz-nos sentir a esperança de um bom evento.

Anatole France, in O Anel de Ametista

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