Li recentemente uma crónica de um senhor muito parvo, assim
mesmo a puxar para a estupidez, de seu nome Camilo Lourenço. Este senhor
advogava que a História é uma ciência inútil e os Historiadores uma gente que nada de bom trazem à Economia
e que nem um canudo merecem.
Ora, eu sou uma das muitas licenciadas em História neste País.
Desde cedo que me habituei a ouvir comentários sobre a pouca importância da
minha licenciatura ou da sua utilidade. Sobretudo porque não optei pela via
ensino, considerada a única via útil ou honesta, resultante da licenciatura.
Então qual é a utilidade da História? Exactamente a mesma
que a Economia. Toda ou nenhuma. A Economia é a ciência que estuda o comportamento
humano, que resulta das constantes e ilimitadas necessidades humanas e os
recursos existentes. Portanto previsões, análises, perspectivas. Actualmente percebemos
como a Economia está longe de ser uma ciência exacta e que as folhas de Excel
são um oráculo muito enganador. Mas não é minha intenção nem dizer mal da
Economia nem de muitos Economistas bons que existem e que Gaspar faz questão em
não os ouvir.
Mas, se Gaspar e Camilo Lourenço tivessem algum respeito
pela História e pelos Historiadores, facilmente os inúteis lhe diriam que esta crise económica é muito parecida com a
de 1929, com o crash da bolsa de Nova Iorque. E também lhe diriam que a solução
é regular fortemente o mercado financeiro, tal e qual como em 1929.E se Gaspar
e Camilo quiserem uma das soluções para a crise, então qualquer Historiador lhes
dirá que, tal como depois da Segunda Guerra Mundial, o investimento em Obras
Públicas foi fundamental para impulsionar a economia e retirar milhões de pessoas
da miséria e da fome. E até podemos dizer a Gaspar e a Relvas, que a emigração
portuguesa na década de 60 foi penosa para o país, tal como a retirada da
família real e da corte em 1808 para o Brasil, porque se perderam conhecimentos
essenciais para construir novos paradigmas económicos, sociais e políticos.
Qualquer historiador também lhes poderia dizer que Angola sempre foi uma
província ultramarina complicada, com graves conflitos internos, e que a
exportação em massa para Angola pode sofrer condicionalismos sociais
resultantes do nosso passado colonizador. Qualquer historiador lhes poderia
dizer isso. Qualquer historiador lhes iluminaria o caminho
E assim, sem respeito pelo passado e pelo que ele nos
ensina, cometem-se novamente os mesmos erros e aplicam-se tardiamente as
soluções esperadas.
Mas claro, eu sou apenas uma pobre historiadora,
absolutamente inútil. E Camilo, Gaspar, e muitos outros são os detentores da
Economia de Excel que nos tem levado longe e tão bem.
“Se eu fosse a um
antiquário, só teria olhos para as coisas velhas. Mas, sou um historiador, é
por isso que amo a vida”.
Marc Bloch