A nossa forma de estar na vida alterou-se, dramaticamente, no século XX. Os
direitos que as mulheres adquiriram, mudaram completamente as relações humanas
construídas ao longo de séculos de História. Os papéis que cada sexo desempenha
transformaram-se de tal maneira que, muitas vezes, temos conflitos entre o que
nos foi ensinado e o que podemos fazer. Muito ainda há que caminhar nas
igualdades, porque a Europa é um oásis no que toca a direitos humanos. Mas,
velhas formas de conduta, não desaparecem de um dia para o outro. Na História,
quando algo é imutável, chamamos-lhe a Lei da Persistência dos Planos.
Esta lei explica que nós, seres humanos, temos tendência a ocupar o que já foi
ocupado, a repetir o que nos foi ensinado e a ter comportamentos iguais aos
nossos antepassados. O dia dos namorados nada mais é que a aplicação desta lei. O que está subjacente ao dia dos namorados é a
imutabilidade do pensamento que séculos de modos de vida tornaram presente: Ter
que ter alguém. Ter de construir uma família. Ser feliz no amor. Estas
obrigações que impomos a todos nós, em nome da felicidade ou apenas para a
preservação da espécie humana, é tão enraizada que temos de a celebrar. E
celebramos com rituais como o casamento, o noivado e o dia dos namorados.
Enquanto os dois primeiros são, quase sempre, uma escolha voluntária dos apaixonados,
o dia dos namorados é uma ritualização obsessiva da felicidade amorosa. E é
impossível escapar porque não só o comércio se apropriou, e bem, desse dia,
como todos nós de alguma forma ou de outra nos lembramos dele. Ou porque o
desprezamos e fazemos questão de o dizer, ou porque o amamos e fazemos questão
de o celebrar.
Mas, no fundo, é uma obrigação de uma sociedade que ainda pretende manter
velhos ritos e velhas normas. O que no íntimo pensamos é que estar sozinho é mau
e sinónimo de algum defeito, e estar com alguém é bom e garantia de felicidade.
Sabemos perfeitamente que, muitas vezes, assim não é. Mas os rituais persistem,
mantém-se e alimentam-se de sentimentos tão variados como o amor, a inveja, a
obsessão ou a tristeza. E para muitas pessoas o dia dos namorados é tudo isso.
Portanto, se estiver sozinho/a neste dia, aguente que vai passar. E se
estiver acompanhado aguente também que vai passar. Porque é só um dia, bom ou
mau, é só mais um dia. Será a soma dos nossos dias, no fim, que nos revelará como
foi a nossa vida. Com ou sem "alma gémea", com ou sem rituais, o que importará foi o
demos de bom aos outros e os outros a nós.E isso é Amor.
Feliz Dia dos Namorados!
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