quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

A utilidade da História para combater os Parvos.


Li recentemente uma crónica de um senhor muito parvo, assim mesmo a puxar para a estupidez, de seu nome Camilo Lourenço. Este senhor advogava que a História é uma ciência inútil e os Historiadores uma gente que nada de bom trazem à Economia e que nem um canudo merecem.
Ora, eu sou uma das muitas licenciadas em História neste País. Desde cedo que me habituei a ouvir comentários sobre a pouca importância da minha licenciatura ou da sua utilidade. Sobretudo porque não optei pela via ensino, considerada a única via útil ou honesta, resultante da licenciatura.
Então qual é a utilidade da História? Exactamente a mesma que a Economia. Toda ou nenhuma. A Economia é a ciência que estuda o comportamento humano, que resulta das constantes e ilimitadas necessidades humanas e os recursos existentes. Portanto previsões, análises, perspectivas. Actualmente percebemos como a Economia está longe de ser uma ciência exacta e que as folhas de Excel são um oráculo muito enganador. Mas não é minha intenção nem dizer mal da Economia nem de muitos Economistas bons que existem e que Gaspar faz questão em não os ouvir.
Mas, se Gaspar e Camilo Lourenço tivessem algum respeito pela História e pelos Historiadores, facilmente os inúteis lhe diriam que esta crise económica é muito parecida com a de 1929, com o crash da bolsa de Nova Iorque. E também lhe diriam que a solução é regular fortemente o mercado financeiro, tal e qual como em 1929.E se Gaspar e Camilo quiserem uma das soluções para a crise, então qualquer Historiador lhes dirá que, tal como depois da Segunda Guerra Mundial, o investimento em Obras Públicas foi fundamental para impulsionar a economia e retirar milhões de pessoas da miséria e da fome. E até podemos dizer a Gaspar e a Relvas, que a emigração portuguesa na década de 60 foi penosa para o país, tal como a retirada da família real e da corte em 1808 para o Brasil, porque se perderam conhecimentos essenciais para construir novos paradigmas económicos, sociais e políticos. Qualquer historiador também lhes poderia dizer que Angola sempre foi uma província ultramarina complicada, com graves conflitos internos, e que a exportação em massa para Angola pode sofrer condicionalismos sociais resultantes do nosso passado colonizador. Qualquer historiador lhes poderia dizer isso. Qualquer historiador lhes iluminaria o caminho
E assim, sem respeito pelo passado e pelo que ele nos ensina, cometem-se novamente os mesmos erros e aplicam-se tardiamente as soluções esperadas.
Mas claro, eu sou apenas uma pobre historiadora, absolutamente inútil. E Camilo, Gaspar, e muitos outros são os detentores da Economia de Excel que nos tem levado longe e tão bem.

Se eu fosse a um antiquário, só teria olhos para as coisas velhas. Mas, sou um historiador, é por isso que amo a vida”.
Marc Bloch

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