Existe uma grande diferença entre ser queixinhas e ser infeliz. Preferimos
claramente os de primeiro tipo porque lidamos bem com as pessoas que se
queixam, lidamos mal com a infelicidade alheia. As pessoas que se queixam da
vida, do trabalho, do marido, sem terem verdadeiros ou grandiosos motivos para
tal, são bem aceites porque todos nós somos assim: pequenos queixinhas,
habituais queixinhas. Que isto está mau, que me fizeram isto, que estou
cansado, que a vida é difícil. Estamos todos preparados para as pequenas
infelicidades ou revezes. Mas para a infelicidade total não estamos preparados
nem sabemos lidar com ela. Quando conhecemos alguém que tem cancro, um filho
muito doente ou perdeu o emprego e a casa, dizemos " força, as coisas vão
melhorar". Incentivamos, somos positivos. Dizemos para ter fé, esperança
num futuro melhor. E afastamo-nos da pessoa porque a infelicidade
permanente é pesada e nós já cumprimos a nossa obrigação: já fomos simpáticos,
já visitámos a pessoa, já incentivámos. Fomos e somos tão boas pessoas, puxámos
para "cima". The End.
Anatole France
A dor diária irrita, a pessoa que continua a ficar triste magoa-nos por não
ver o lado positivo. O cancro vai passar, claro que vai, no fim vamos rir disto
tudo. E tudo o resto vai passar, para quê ser infeliz? Admiramos as pessoas que
não nos lembram permanentemente a sua dor mas nos brindam com a sua
alegria e boa disposição" Ah ele é tão forte, vai superar isto",
"ah que lutadora, é uma inspiração".
Somos uma sociedade que nega o direito a ser infeliz. Negamos o direito à
lamentação, à desistência, ao choro. Negamos tudo o que nos incomoda, somos
eternamente positivos. Tornamos a infelicidade num tabu e nem sequer admitimos
"pensamentos negativos" como se só e apenas a ideia de aceitarmos
algumas evidências menos boas as torne reais.Somos uma sociedade que aceita o choro em doses moderadas, mas não em doses
constantes. Não concebemos a dor nem a morte como algo inevitável e que temos
de assumir. Somos como um sopro de vento no verão que há-de passar. Mas a
vida não é sempre Verão e temos direito ao Inverno quando este chega e bate à
porta.
Portanto se está infeliz, se a vida é uma verdadeira madrasta para si, chore, seja
infeliz. Tem esse direito!
A infelicidade é a nossa maior mestra e amiga. É a que nos ensina o sentido da vida."