sexta-feira, 26 de abril de 2013

Direito a ser infeliz

Existe uma grande diferença entre ser queixinhas e ser infeliz. Preferimos claramente os de primeiro tipo porque lidamos bem com as pessoas que se queixam, lidamos mal com a infelicidade alheia. As pessoas que se queixam da vida, do trabalho, do marido, sem terem verdadeiros ou grandiosos motivos para tal, são  bem aceites porque todos nós somos assim: pequenos queixinhas, habituais queixinhas. Que isto está mau, que me fizeram isto, que estou cansado, que a vida é difícil. Estamos todos preparados para as pequenas infelicidades ou revezes. Mas para a infelicidade total não estamos preparados nem sabemos lidar com ela. Quando conhecemos alguém que tem cancro, um filho muito doente ou perdeu o emprego e a casa, dizemos " força, as coisas vão melhorar". Incentivamos, somos positivos. Dizemos para ter fé, esperança num futuro melhor. E afastamo-nos da pessoa porque  a infelicidade permanente é pesada e nós já cumprimos a nossa obrigação: já fomos simpáticos, já visitámos a pessoa, já incentivámos. Fomos e somos tão boas pessoas, puxámos para "cima". The End.
A dor diária irrita, a pessoa que continua a ficar triste magoa-nos por não ver o lado positivo. O cancro vai passar, claro que vai, no fim vamos rir disto tudo. E tudo o resto vai passar, para quê ser infeliz? Admiramos as pessoas que não nos lembram permanentemente a sua dor mas  nos brindam com a sua alegria e boa disposição" Ah ele é tão forte, vai superar isto", "ah que lutadora, é uma inspiração".
Somos uma sociedade que nega o direito a ser infeliz. Negamos o direito à lamentação, à desistência, ao choro. Negamos tudo o que nos incomoda, somos eternamente positivos. Tornamos a infelicidade num tabu e nem sequer admitimos "pensamentos negativos" como se só e apenas a ideia de aceitarmos algumas evidências menos boas  as torne reais.Somos uma sociedade que aceita o choro em doses moderadas, mas não em doses constantes. Não concebemos a dor nem a morte como algo inevitável e que temos de assumir. Somos como um sopro  de vento no verão que há-de passar. Mas a vida não é sempre Verão e temos direito ao Inverno quando este chega e bate à porta. 
Portanto se está infeliz, se a vida é uma verdadeira madrasta para si,  chore, seja infeliz. Tem esse direito!


A infelicidade é a nossa maior mestra e amiga. É a que nos ensina o sentido da vida."
 Anatole France

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