quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Vou comprar a Acrópole!

O ano passado, aí por esta altura, tentei comprar uma ilha na Grécia. Sou uma benemérita, quero ajudar os pobre gregos da alhada em que se meteram e  também não quero que o meu papá e os seus amigos banqueiros percam dinheiro. A maçada é que os ingratos dos gregos não querem vender as ilhas e eu só queria uma pequenina, assim bem gira, que só custa dois milhões.  Das 227 ilhas gregas sem habitantes, uma seria para mim e para os meus amigos para fazermos assim uma party, tipo helénica e tal. Vou toda vestida de Armani e já tenho tema: Greek Desire. Só é chato ainda não ter a ilha, aquele aborrecido do Papandreous não quer vender as ilhas, onde já se viu isto?
A tia Merkel anda furiosa com a Grécia.Ao menos se ainda estivessem a ganhar dinheiro com a dívida pública, ao menos se estivessem a enriquecer com os juros exorbitantes dos outros, como a Alemanha.
Nada, a Grécia  até nos fez mais ricos, muito mais ricos.Mas isto de não vender as ilhas é uma maçada. E depois, essa coisa de não nos quererem pagar os juros exorbitantes, onde já se viu? Os gregos não sabem que os bancos é que mandam?
Agora o titi  Shauble é que lhes vai fazer ver! É que se não venderem as ilhas, devem vender o património histórico.Embora eu ache que também devem vender as ilhas. É que eu já estou a ver a Acrópole a decorar a minha ilha...

"Admira-se o talento, a coragem, a bondade, as grandes dedicações e as provas difíceis, mas só temos consideração pelo dinheiro."
Chamfort , Sébastien-Roch.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Na Síria já não existem domingos nem o mês bom de Agosto....

Está calor, muito calor aqui pelo reino dos Algarves. Os restaurantes estão cheios, as praias também e comem-se bolas de Berlim com creme.Existem massagistas tailandesas na praia que nos curam as maleitas do corpo e da alma e, por uns breves instantes, é domingo no mundo como canta o Sérgio Godinho. E as crianças correm, e a pele fica bronzeada e amores de verão vão e vêm como as ondas do mar.
Está tudo bem, mesmo tudo bem. Porque é Agosto e está calor, muito calor.
E, sem mais, o Público publica a foto de um menino de três anos, embrulhado na sua mortalha. E o calor torna-se insuportável, a angústia cresce. Na Síria já não é Agosto desde 2011. Já não há domingos nem dias bons, nem crianças a brincar pelas ruas. E não deixo de  me perguntar  que, se o menino Hassan se chamasse João, talvez estivesse na praia a brincar enquanto os pais refilavam da crise que nos assola.E compreendo que enquanto os meninos de Portugal estiverem na praia a brincar, mesmo que não haja dinheiro para as bolas de Berlim continuará a ser domingo no Mundo e Agosto durante todo o ano...

Para lerem a notícia  sobre o massacre ocorrido na Síria na integra, cliquem no link abaixo.

http://www.publico.pt/mundo/noticia/37-paises-pedem-a-onu-investigacao-sobre-ataque-quimico-na-siria-1603714

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

terça-feira, 13 de agosto de 2013

A Prostituição tem género?

Esta história ocorreu há precisamente 3 anos. Nem mais nem menos. Fomos beber um café, eu e uma amiga que é alguns anos mais velha que eu. Divorciada, mãe de uma criança pequena, com um ordenado que ronda os seiscentos e poucos.Nada de extraordinário, como se vê. Uma mulher como qualquer outra,portanto. Disse-me que me ia contar uma coisa que eu não ia gostar. No seu trabalho, uma colega falou-lhe de um rapaz, amigo de amigo de amigo, que fazia assim uns "favores" a mulheres jovens. Conheceu o rapaz no dia anterior no café, através dessa colega de trabalho. Conversa curta, combinaram a hora do dia seguinte. Nem 5 minutos demorou a conversa
-Foi constrangedor? Perguntei.
-Não, nada. Combinámos hora e local. A minha amiga disse-me quanto é que se devia pagar pelo "serviço" e foi assim. No dia seguinte, hora marcada e foi assim. Deixei o dinheiro no envelope perto da mesa da saída e foi assim.
Nada de glamour, nada de hotéis de luxo, nada de preliminares, nada de conversas românticas ou essas coisas que gostamos de apregoar para explicar ao mundo que não é o “acto” que importa, mas sim a envolvência.
Talvez tenha dito mais duas ou frases do género, pois, ou tu é que sabes. E nada mais porque quando ficamos incrédulas de todo, as palavras emigram para outro planeta.
A minha amiga continua minha amiga e, se voltou a recorrer a tais “serviços" nunca mais me contou. Mas, não deixo de pensar, que se a história se passasse com um homem que tivesse  recorrido à prostituição, a minha reacção teria sido tão, mas tão diferente. A tolerância seria zero, provavelmente tinha-o insultado, recorrido aos argumentos da exploração de carne branca, do papel da mulher explorada e, se nada resultasse, usaria o argumento da saúde pública. Atiraria com um " não tens necessidade disso" e abandonaria a sala ressentida, amargurada e a cabeça do meu amigo ficaria cheia de culpas para o próximo milénio. Mas com a minha amiga, a minha atitude não foi assim. Embora não tenha aplaudido a sua atitude, também não a condenei veemente como teria feito a um homem. E concentrei-me mais na sua parte emocional e psicológica, usando todos os clichés como " sentes-te sozinha e blá blá blá".
Por isso, passados três anos ainda me interrogo: a prostituição tem género? Tolerei e até, sejamos francos, aceitei a atitude da minha amiga porque para mim os homens não são explorados mas sim agraciados pela sua masculinidade? Considerei que um homem prostituto trabalha por "prazer"? E porque não as mulheres, se o inverso se colocar? A verdade é que para mim, anos de pecados e tradições católicas em que Eva é a culpada de tudo, pesam mais do que eu gosto de admitir. Deverei tomar uma atitude repressiva perante os dois casos ou devo calar-me e remeter-me à minha condição de " não tens nada com isso, é um negócio entre eles"? É a prostituição um negócio? Deve-se legalizar? Como sociedade o pecado não mora ao lado, mora no meio de nós, em cada rua e em cada esquina.O que devemos fazer ou não fazer?
Não tenho qualquer opinião formada sobre o negócio da prostituição. É das poucas coisas que gostava de perceber melhor para poder agir melhor. Mas uma coisa percebi: para mim a prostituição tem género. E não gosto desta parte em mim.
E vocês caros leitores, que acham de tudo isto?



quinta-feira, 8 de agosto de 2013

A Gaiola Dourada.

Tal como prometido no domingo passado, fui ver  o filme  A Gaiola Dourada. Não fui exactamente nesse domingo como referi na Revista de Imprensa, mas ontem. Estava preparada para gostar e que gostei muito.
É verdade que é uma colecção de clichés, que provavelmente alguns portugueses não são assim, mas a grande maioria cabe naquelas descrições. O português poupado existe, o português que não gosta de ir a restaurantes existe, a portuguesa que faz tudo pelas patroas existe, a portuguesa que tem a casa num "brinco" existe. Como existem os filhos que têm vergonha da família e os filhos que não toleram que tratem mal os seus pais numa sociedade que também é a sua.
Está lá tudo, está lá toda a minha família, primos e tios, que emigraram: os de primeira geração que trabalham sem parar, os filhos deles que estudaram e são franceses mas a sentirem-se portugueses, e os filhos dos filhos que não negam as origens nem a família, e têm bons cargos e bons empregos nessa França que os acolheu. Estamos lá todos e creio até que o realizador foi parco em clichés. Se houver uma nova gaiola dourada, deixo aqui algumas sugestões ou clichés que são tão verdadeiros como respirar, andar ou viver. Falta a personagem magra a quem as tias colocam logo um bom prato de comida à frente e a quem dizem " rapariga, caredo, estás um esqueleto. Não te dão comida lá onde tu andas"? Falta a personagem que está mais cheiinha (posso interpretar esse papel perfeitamente) a quem as tias dizem " estás jeitosa". Falta o casal moderno, aquele cuja mulher diz “querido podes levantar a mesa?”, e a quem as tias dizem " caredo, rapaz, deixa lá isso", ao mesmo tempo que olham para a mulher com ar muito zangado: Não foi assim que te ensinamos! Ai caredo que estas raparigas de hoje não sabem fazer nada!
Para as minhas tias não existem direitos iguais, nem essas modernices. Não importa o sucesso feminino se não se sabe fazer uma boa sopa da pedra ou se se continua a chatear o rapaz que caredo, é uma jóia de pessoa. Mas para as minhas tias os homens também não contam muito. Elas fazem o que querem, vão aos bailes que querem, reúnem-se as vezes que querem. Deixa-os pensar que mandam, é a regra não dita mas muito bem aplicada pela minha família.
Se pensarmos bem,  a vida dos emigrantes até pode ser uma gaiola, mas é dourada. E quem se importa com isso se, no fim, Eusébio ainda é o rei, o Benfica é o maior clube português, e ouve-se a Linda de Suza e a mala de cartão nesse pequeno Portugal que fica noutro país mas não é por isso menos português. Ai caredo, que não é não.


segunda-feira, 5 de agosto de 2013

O plágio dos Police.

Estou profundamente aborrecida. É Agosto, os deputados foram de férias e não há insultos diários no Parlamento, ninguém se casa e divorcia com escândalo e o bebé real deve estar a dormir.
Não costumo chamar a esta estação a silly season com medo de ofender o resto dos meses do ano que são geralmente silly. Esta é a quiet season, se é para continuar com termos estrangeiros que dá sempre um ar culto e intelectual.
No meio das noticias mais ou menos interessantes, reparei que o país copiou, provavelmente sem se aperceber aquele grande êxito dos Police o "dododo the dadada"  e canta alegremente o "dededede Câmara" e "dadadadada  Câmara" sem pagar direitos de autor. O Zé Manel de Fafe está preocupado se o Fernando Seara pode ser o futuro  presidente de Câmara de Lisboa apesar de ter sido presidente da Câmara de Sintra . É que, pensa o Zé Manel, se tiver sido presidente da Câmara de Sintra pode ser presidente de Câmara de Lisboa.Mas se tiver sido presidente de Câmara de Sintra já não pode ser presidente da Câmara de Lisboa.
E portanto o Zé Manel canta o "dedede" Câmara preocupado com a situação "dadadadada" Câmara de Lisboa. O que nos salva, pensa o nosso Zé Manel da cidade de Fafe ,  é o nosso douto primeiro-ministro que já veio reflectir sobre a questão e dizer palavras sábias e eruditas como "isto assim ainda dá mais gozo". Podia ser comentário futebolístico mas é mesmo político,  mas quem ler bem nas entrelinhas das entrelinhas das entrelinhas, percebe que está lá todo um pensamento político profundo misturado com as Bolas de Berlim da praia de Manta Rota.
Se os Police pedirem uma indemnização ao país, se calhar temos um segundo e terceiro resgate a caminho, porque os mercados devem acordar lá para dia 15 de Agosto e, já se sabe, estes mercados acordam sempre nervosos, principalmente se os direitos de autor forem altos o que deve dar umas taxas de juro inadmissíveis e, como diz a doutor Paulo Portas, irrevogáveis com revogação a cada dois dias.
Bem, é melhor desligar a televisão e ir ter com os meus amigos desempregados, que são todos.Não temos dinheiro para um café, vamos tentar não falar de Câmara ou da Câmara, e aproveitar o sol. Porque como dizia o nosso outro também erudito primeiro-ministro isto "é porreiro, pá"!

"A política é talvez a única profissão para a qual se pensa que não é precisa nenhuma preparação."
Robert Stevenson.