quinta-feira, 8 de agosto de 2013

A Gaiola Dourada.

Tal como prometido no domingo passado, fui ver  o filme  A Gaiola Dourada. Não fui exactamente nesse domingo como referi na Revista de Imprensa, mas ontem. Estava preparada para gostar e que gostei muito.
É verdade que é uma colecção de clichés, que provavelmente alguns portugueses não são assim, mas a grande maioria cabe naquelas descrições. O português poupado existe, o português que não gosta de ir a restaurantes existe, a portuguesa que faz tudo pelas patroas existe, a portuguesa que tem a casa num "brinco" existe. Como existem os filhos que têm vergonha da família e os filhos que não toleram que tratem mal os seus pais numa sociedade que também é a sua.
Está lá tudo, está lá toda a minha família, primos e tios, que emigraram: os de primeira geração que trabalham sem parar, os filhos deles que estudaram e são franceses mas a sentirem-se portugueses, e os filhos dos filhos que não negam as origens nem a família, e têm bons cargos e bons empregos nessa França que os acolheu. Estamos lá todos e creio até que o realizador foi parco em clichés. Se houver uma nova gaiola dourada, deixo aqui algumas sugestões ou clichés que são tão verdadeiros como respirar, andar ou viver. Falta a personagem magra a quem as tias colocam logo um bom prato de comida à frente e a quem dizem " rapariga, caredo, estás um esqueleto. Não te dão comida lá onde tu andas"? Falta a personagem que está mais cheiinha (posso interpretar esse papel perfeitamente) a quem as tias dizem " estás jeitosa". Falta o casal moderno, aquele cuja mulher diz “querido podes levantar a mesa?”, e a quem as tias dizem " caredo, rapaz, deixa lá isso", ao mesmo tempo que olham para a mulher com ar muito zangado: Não foi assim que te ensinamos! Ai caredo que estas raparigas de hoje não sabem fazer nada!
Para as minhas tias não existem direitos iguais, nem essas modernices. Não importa o sucesso feminino se não se sabe fazer uma boa sopa da pedra ou se se continua a chatear o rapaz que caredo, é uma jóia de pessoa. Mas para as minhas tias os homens também não contam muito. Elas fazem o que querem, vão aos bailes que querem, reúnem-se as vezes que querem. Deixa-os pensar que mandam, é a regra não dita mas muito bem aplicada pela minha família.
Se pensarmos bem,  a vida dos emigrantes até pode ser uma gaiola, mas é dourada. E quem se importa com isso se, no fim, Eusébio ainda é o rei, o Benfica é o maior clube português, e ouve-se a Linda de Suza e a mala de cartão nesse pequeno Portugal que fica noutro país mas não é por isso menos português. Ai caredo, que não é não.


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