Hoje, tal como milhares de portugueses, fui votar.Gosto do acto de
votar não apenas pela escolha democrática que temos direito ou pelo dever
que temos de cumprir, mas pela possibilidade de ver pessoas que já não
vejo há muito tempo.E porque gosto de política e, este ano, os tesourinhos das
autárquicas animaram os meus dias. Mas sobretudo e especialmente e principalmente porque
adoro as conversas antes do voto. Existem aqueles que votam sempre no mesmo
partido, tipo clube de futebol(" ah,
eu voto no meus PSD" ouvi hoje várias vezes), e os que votam sempre em
partidos diferentes para não ofender ninguém. Os comunistas vêm-se à distância, é camarada para lá e camarada para
cá, os do PP reconhecem-se pelos botões de punho, os do PS topam-se pelos
olhares ansiosos, e os independentes são tão independentes que a sua
independência anda para lá sem ser visível. E depois há toda uma gama de
comentários que merece ser ouvida. São aquelas gaiatas da terra que se
candidatam porque querem lá se
meter, é aquela lista que não
tem ninguém da terra onde já se viu isto? é o filho da não sei quantas que está na lista A e o filho do não sei quantos que está na lista B. É aquela
vaidosa que vai vestida como se fosse para um casamento e a outra desleixada
que vai vestida como se fosse para o campo. É o Chico que está velho e o filho
do Chico que está jeitoso,Oh se está!
Votar é uma emoção que não tem nada que ver com partidos nem com
candidatos. Votar é toda uma outra emoção, onde os dias das gentes se cruzam
com esse dia especial que infelizmente só se repete de 4 em 4 anos. E ganhe
quem ganhar, para uns vai ser uma tragédia, para outros uma festa. E passados
15 dias o tipo já é um corrupto, ou um choninhas ou um arrogante, que faz tudo mal
comparado com o anterior que fazia tudo bem e era tão maravilhoso.
E pronto, agora só daqui a 4 anos é que eu volto a ver o filho do
Chico, a vestimenta da Maria e o cabelo desmazelado da Manuela.Há lá maior emoção do que ir votar?
O Estado deve fazer o que é útil. O indivíduo deve fazer o que é belo.
Oscar Wilde