terça-feira, 8 de outubro de 2013

Saudade

Dizem que é uma palavra que só existe em português, mas não sei se isto é assim tão correcto. Parece-me uma pequena sobranceria achar que só nós sabemos mesmo o que é a saudade porque só nós a sentimos verdadeiramente. Eu não creio em sentimentos exclusivos, acredito que um indiano sente tantas saudades de quem ama ou amou quanto um português. A saudade é indecifrável e universal, diga-se da forma que se disser. Saudade é saudade. Sentir saudades é tão natural como sorrir, mas as saudades quando são muitas fazem-nos chorar. Sente-se saudades infinitas de quem já partiu que é uma dor miudinha, eterna e permanente, na alma.E se doi...
Sente-se saudades de quem se ama quando esse alguém está fora, mas é uma saudade cheia de expectativas boas, porque sabemos o que vai acontecer e o que vai acontecer é bom. Sente-se saudades da infância, da escola, dos amigos distantes, dos que já partiram.
Mas eu sinto saudades do que ainda não vivi. Não sinto saudades nem da infância, nem da adolescência, nem  da  vida adulta, nem do que vivi. Não gosto de reuniões nostálgicas de um tempo perdido que já não volta e por isso a memória o tornou perfeito e irreal. Tenho umas saudades idiotas do que está para vir, do que eu vou fazer, de onde irei. Tenho saudades do futuro, numa angústia permanente do que ainda não chegou e tanto vai demorar…
Esta é a minha saudade.. e tu, qual é a tua saudade?

Na verdade, não temos saudades, é a saudade que nos tem, que faz de nós o seu objecto. Imersos nela, tornamo-nos outros. Todo o nosso ser ancorado no presente fica, de súbito, ausente.
Eduardo Lourenço

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