quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Foste traído? A culpa é tua.

Se há tema que nos apaixona, é o amor. Se há tema que nos arrepia, é a traição. Existem tantos tipos de traição (entre amigos, nos negócios, na vida do dia-a-dia), que quase me atrevo a dizer que para trair e ser traído basta estar vivo. Mas o tipo de traição que eu quero aqui discutir é a traição amorosa. Durante muitos anos li quase todas as revistas femininas, frequentei muitos cabeleireiros e ouvi muitas conversas para chegar à seguinte conclusão: em Portugal, quiçá no Mundo, a culpa da traição é do traído. Just simple as that!
Porquê? Bem, porque como qualquer amiga(o) vos dirá, a traição ocorreu porque a relação já não estava bem, " já não comunicávamos", "não tínhamos tempo um para o outro", entre outras verdades. Se traíste, a culpa é do teu companheiro: não te ouviu, não fizeram planos, não investiram na relação . Se foste traído, a culpa é tua: não ouviste, não fizeram planos, não investiram na relação. E aqui está fórmula mágica para combater a traição: ouvir, falar, investir na relação, programas a dois. Também é possível ser-se traído ou traída porque não demos espaço ao outro, mas isso também só acontece porque a "comunicação" não foi  a correcta. Culpa, culpa, culpa. Explicações, tentativas de entender, de aceitar, de catalogar.  A traição é como o amor: ocorre de diversas maneiras, sem se esperar, sem hora marcada.
Conheço muito boa gente que ama o marido, a mulher, mas que não resiste aquele jogo da sedução que ocorre no trabalho, na noite, no facebook. E todos comunicam bem e amam-se, verdadeiramente. E também conheço quem tenha traído porque simplesmente teve oportunidade para isso: numa noite, numa viagem, com desconhecidos, com conhecidos.  Conheço traidores que traem porque gostam da sensação de risco, conheço pessoas para quem ser traído não é nada de mais, até defendendo que há coisas piores, e até quem aceite que o companheiro precise de aventuras para se sentir feliz. Numa sociedade machista como a nossa, a traição da mulher é vista como um crime, a do homem como uma constatação de virilidade Mas a minha geração já não aceita estas definições e a minha geração é igualitária no trair e ser traído.
Trair não significa não comunicar, trair não significa não ter uma relação estável. E podem-se tirar as conclusões que se quiserem menos uma: a traição só ocorre porque a relação não estava bem. A traição ocorre porque sim e porque não. Mas sobretudo a culpa não é partilhada, mas o perdão pode sê-lo.


Cometem-se muito mais traições por fraqueza do que em consequência de um forte  desejo de trair.

Rochefauld, François.

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