É uma característica muito nossa: os estrangeiros são melhores em
tudo e lá no estrangeiro é que é bom, excepto quando se fala na nossa cozinha e
do nosso vinho e do nosso fado e aí somos do melhor. E futebol é bom é cá, que
somos os melhores do Mundo. Mas assim para os negócios e para o pensamento é
que não, que lá fora é tudo bom, lá fora é que sabem. Já ouvi, como vocês
decerto, este discurso muitas vezes em familiares, amigos, gente vária. Mas
nunca o tinha ouvido de um ministro, neste caso da ministra das finanças,
aquela personagem recta e sonsa que de vez em quando aparece na televisão. É
sempre bom quando nós dizemos ao torturador que eles são lindos, magníficos e
bons profissionais. Lembra-me o discurso das mulheres agredidas nos anos 60 que
" o homem até é bom, a culpa é do vinho, o vinho é que é pior". O que a nossa triste ministra disse foi que o
programa é óptimo, o povo é que é do piorio, um horror. Diz a ministra que o
programa é um sucesso, travado por um " diálogo de respeito mútuo".
No fundo, os chatos são os tais do tribunal Constitucional, mas pronto o
programa " é muito exigente e, no final, " as instituições vão estar
mais preparadas para lidar com a crise". Não sabemos quais são as
instituições, mas suponho que não sejam os hospitais, nem os tribunais, nem a
escola pública desmantelada pelo Crato.
E se, apenas se, algo correu mal, é culpa do Sócrates porque quando os
meninos do CDS e do PSD foram ter com a Troika não falaram de " medidas,
metas orçamentais ou do envelope financeiro". Então falaram sobre o quê?
Sobre o bom tempo que faz em Portugal e dos travesseiros da Periquita? Chamaram
alguém para pagar as contas mas nem sabiam quais eram, nem quais os juros,
nem o tempo que demorava a pagar? Então que foram lá fazer? Já sei: foram entregar o país de mão beijada porque lá fora
é que sabem, lá fora é que são bons.
Oh gente da minha terra, oh ministra parvinha, sonsinha e lambe botas. Não lhe fazia mal ler as respostas do ministro das finanças grego e
saber que o povo grego pode estar vergado, mas não lambe as botas a
europeuzitos mandões de segunda. E só para terminar, o eurodeputado que chefia
a missão da avaliação da troika, Othmar Karas, afirmou que Portugal foi muito
prejudicado por erros da Troika e pela falta de transparência do programa.
É incrível como toda a gente percebeu que isto nos fez tão mal, excepto a
ministra, que agradece a " ajuda da task Force da comissão europeia".
Pois, obrigadinho pá. Agora vão-se lá embora e levem esta ministra. Afinal ela
gosta tanto de vocês e nós gostamos tão pouco dela..
"Ó gente da minha terra
Agora é que eu percebi
Esta tristeza que trago
Foi de vós que recebi"
Amália Rodrigues
P.s- Entre aspas estão as citações da ministra ao grupo de eurodeputados que veio avaliar a actuação da troika em Portugal. Tal e qual, sem alterações.
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