quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

O medo do outro

O medo mete medo, porque o medo é paralisador e provocador. Podemos ter medo de quem nos quer fazer mal, e esse medo é legítimo, ou quase sempre legítimo. E depois há o medo que nos provoca, e esse medo não paralisa porque é um medo reactivo a tudo o que não compreendemos, a tudo o que não catalogamos. Este é o medo que toma o nome de racismo, xenofobia, preconceito. Ontem esse medo voltou à praça democrática portuguesa, quando o partido do governo, depois de ter passado a lei da co-adopção, dá o dito por não dito e propõe um referendo. Se cada vez que uma decisão polémica precisa de referendo, a própria noção de existirem deputados eleitos para tomarem decisões deixa de fazer sentido, sobretudo porque quando as questões são económicas e desastrosas ninguém é chamado à praça pública. E agora, este movimento dos homossexuais católicos , que só existem abertamente porque a sociedade se abriu à diferença, diz-se contra a co-adopção. E eu não percebo  de que é que têm medo. Duas pessoas que gostam uma da outra, tal como os homossexuais católicos gostam por certo, não conseguem amar juntas uma criança? E um casal " normal" de um homem e uma mulher, têm livre passe no amor? Não existem más mães nos casais heterossexuais nem maus pais, pais ausentes, nos casais " normais"? O sexo que temos e fazemos é suficiente para nos catalogar como aceites e responsáveis caso amemos dentro das convenções ou indignos e incapazes se amarmos  quem o coração nos ordena? Eu não creio nisso.
O amor é pessoal  e intransmissível e não depende de sexo, de orientação sexual, de pressupostos da sociedade. O amor de duas meãs pelos seu filhos e de dois pais pelos seu filhos  é tão legítimo quanto os amores “normais”. Porque amor é amor e deve ser só isso que importa. Não os nossos medos irracionais que não conseguem compreender quem é diferente  e não conseguem catalogar o que para nós é desconhecido. Mas quando tema é crianças e o seu direito a ter direitos iguais às outras crianças, o enfoque deve ser o amor e não o medo do que não conhecemos, do que não entendemos, do que não sabemos lidar. E se os homossexuais católicos não conseguem compreender isto, então pouca fé têm estas pessoas no seu próprio ser.
Quando o tema é crianças, só o amor se justifica. Só o amor.

O acolhimento não deve estar ligado a julgamento. Acolhe-se porque se ama, independente do mérito da pessoa."

Bernardino Leers e José Trasferetti in Homossexuais e Ética Cristã

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