O medo mete medo, porque o medo é paralisador e provocador.
Podemos ter medo de quem nos quer fazer mal, e esse medo é legítimo, ou quase
sempre legítimo. E depois há o medo que nos provoca, e esse medo não paralisa
porque é um medo reactivo a tudo o que não compreendemos, a tudo o que não
catalogamos. Este é o medo que toma o nome de racismo, xenofobia, preconceito.
Ontem esse medo voltou à praça democrática portuguesa, quando o partido do
governo, depois de ter passado a lei da co-adopção, dá o dito por não dito e propõe
um referendo. Se cada vez que uma decisão polémica precisa de referendo, a
própria noção de existirem deputados eleitos para tomarem decisões deixa de
fazer sentido, sobretudo porque quando as questões são económicas e desastrosas
ninguém é chamado à praça pública. E agora, este movimento dos homossexuais
católicos , que só existem abertamente porque a sociedade se abriu à diferença,
diz-se contra a co-adopção. E eu não percebo de que é que têm medo. Duas
pessoas que gostam uma da outra, tal como os homossexuais católicos gostam por
certo, não conseguem amar juntas uma criança? E um casal " normal" de
um homem e uma mulher, têm livre passe no amor? Não existem más mães nos casais
heterossexuais nem maus pais, pais ausentes, nos casais " normais"? O
sexo que temos e fazemos é suficiente para nos catalogar como aceites e
responsáveis caso amemos dentro das convenções ou indignos e incapazes se
amarmos quem o coração nos ordena? Eu
não creio nisso.
O amor é pessoal e intransmissível
e não depende de sexo, de orientação sexual, de pressupostos da sociedade. O
amor de duas meãs pelos seu filhos e de dois pais pelos seu filhos é tão legítimo
quanto os amores “normais”. Porque amor é amor e deve ser só isso que importa.
Não os nossos medos irracionais que não conseguem compreender quem é diferente
e não conseguem catalogar o que para nós é desconhecido. Mas quando tema
é crianças e o seu direito a ter direitos iguais às outras crianças, o enfoque
deve ser o amor e não o medo do que não conhecemos, do que não entendemos, do
que não sabemos lidar. E se os homossexuais católicos não conseguem compreender
isto, então pouca fé têm estas pessoas no seu próprio ser.
Quando o tema é crianças, só o amor se justifica. Só o amor.
O acolhimento não deve estar
ligado a julgamento. Acolhe-se porque se ama, independente do mérito da pessoa."
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