Vai
o morto no caixão e todos exclamam " que bem que vai o morto, que roupa
tão bonita". O caixão está bem luzidio, as rendas bem bordadas, um branco
celestial cobre o morto. Todos olham para o morto com admiração, com apreço. A
capela está cheia de flores e de grandes dignatários e o padre empenha-se
numa bonita homilia de elogio ao morto, aos seus esforços, à sua dedicação. O
enterro é alegre mas digno, cheio de elogios, mas conservando-se o
espírito reservado porque afinal é um funeral e o morto vai tão bem. É
uma morte que valeu a pena, porque só a morte permitiu a baixa do défice, esse
bem necessário. Morreu um país industrial, morreu um país científico, morreram
as pequenas lojas, morreram as ideias, o pensamento, a arte e o design, morreram os jovens e morreram os
velhos. Mas que importa? O país morreu mas vai bonito e os dignatários sabem
apreciá-lo. Que lindo morto que foi Portugal!
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