sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

O Morto.

Vai o morto no caixão e todos exclamam " que bem que vai o morto, que roupa tão bonita". O caixão está bem luzidio, as rendas bem bordadas, um branco celestial cobre o morto. Todos olham para o morto com admiração, com apreço. A capela  está cheia de flores e de grandes dignatários e o padre empenha-se numa bonita homilia de elogio ao morto, aos seus esforços, à sua dedicação. O enterro é alegre mas digno, cheio de elogios,  mas conservando-se o  espírito reservado porque afinal é um funeral e o morto vai tão bem. É uma morte que valeu a pena, porque só a morte permitiu a baixa do défice, esse bem necessário. Morreu um país industrial, morreu um país científico, morreram as pequenas lojas, morreram as ideias, o pensamento, a arte  e o design, morreram os jovens e morreram os velhos. Mas que importa? O país morreu mas vai bonito e os dignatários sabem apreciá-lo. Que lindo morto que foi Portugal!

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