É provável que, quando começarem a ler este texto, tenham sido
bombardeados com histórias de bolseiros e da sua vida. E é provável que tenham
sentido empatia com as histórias mas tenham ficado na mesma sobre a questão das
bolsas. Porque a imprensa não explica nem o que é uma bolsa nem o que é um bolseiro,
ficando no ar aquela ideia de que são aqueles miúdos que continuam a estudar e
a viver em casa dos pais. Bem, sim e não. Porque existem bolsas de estudo e
bolsas de investigação científica. Confusos? Passo a explicar. Uma bolsa de
estudos é dada a alunos carenciados que, devido à sua situação económica e/ou
dos pais, recebem por mês um valor que lhes permite pagar as propinas ou uma
ajuda para o pagamento das propinas. Essas bolsas são uma ajuda ao estudante,
que necessita dessa bolsa para poder concluir o 12º ano, ou a sua licenciatura
ou até o seu mestrado. São bolsas pequenas, não passam dos cento e pouco euros
por mês e ajudam, apenas ajudam. Até agora, o Estado ainda não mexeu nestas
bolsas, embora a papelada para se pedir a bolsa de estudos continue a aumentar.
E depois existem as bolsas de investigação científica, que são aquelas bolsas
pagas a quem está a fazer um doutoramento, ou pós-doutoramento ou pós-pós-
doutoramento. Bem, esta gente na prática não são estudantes. Não, não são. Um
exemplo prático. A tese de mestrado de uma aluna (paga pelos pais, suponhamos)
levantou a questão de que a enzima x é essencial para combater a leucemia
infantil. Então, essa aluna propõe-se a estudar esta enzima na esperança de
encontrar uma cura para a leucemia infantil. Pede ao Estado uma bolsa de investigação
científica e receberá, por mês, um valor (geralmente, em Portugal, são cerca de
980 euros) e estuda durante quatro anos essa enzima. Mas, a cada ano, tem de apresentar provas do seu
esforço para que lhe renovem a bolsa mais um ano, até completar os quatro.
Imagine que a investigação permitiu avançar sobre a doença e agora são precisos
testes. A aluna pede então bolsa de pós- doutoramento, para continuar a estudar
a aplicação da enzima na vacina . Bem, isto não é um estudo, é um trabalho. Mas
não se chama trabalho porque o Estado patrocina estas investigações através de
bolsas e não tem capacidade de absorver estes investigadores nos seus
laboratórios. Então, cada novo ano estes investigadores concorrem a estas bolsas até
que algum laboratório ou empresa exterior os venha buscar e levar todo este
saber para outro país. Mas a verdade é, que enquanto há bolsas, os
investigadores preferem ficar por cá. Agora quando em 3433 candidatos, o Estado
só atribui 308 bolsas, significa que os restantes 3124 bolseiros estão a parar
as suas investigações e, muitos deles, irão sair do país. E talvez aquela aluna
vá para os EUA onde a sua investigação vai ajudar a produzir a vacina contra a
leucemia infantil.É por isso que isto das bolsas é tão revoltante. Porque não é apenas uma geração inteira que se perde, é
todo um mundo de saber que desaparece.
No fim último, é o futuro que se vai embora.
O futuro dependerá daquilo que fazemos no presente.
Gandhi
O futuro dependerá daquilo que fazemos no presente.
Gandhi
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