terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Os bolseiros.

É provável que, quando começarem a ler este texto, tenham sido bombardeados com histórias de bolseiros e da sua vida. E é provável que tenham sentido empatia com as histórias mas tenham ficado na mesma sobre a questão das bolsas. Porque a imprensa não explica  nem o que é uma bolsa nem o que é um bolseiro, ficando no ar aquela ideia de que são aqueles miúdos que continuam a estudar e a viver em casa dos pais. Bem, sim e não. Porque existem bolsas de estudo e bolsas de investigação científica. Confusos? Passo a explicar. Uma bolsa de estudos é dada a alunos carenciados que, devido à sua situação económica e/ou dos pais, recebem por mês um valor que lhes permite pagar as propinas ou uma ajuda para o pagamento das propinas. Essas bolsas são uma ajuda ao estudante, que necessita dessa bolsa para poder concluir o 12º ano, ou a sua licenciatura ou até o seu mestrado. São bolsas pequenas, não passam dos cento e pouco euros por mês e ajudam, apenas ajudam. Até agora, o Estado ainda não mexeu nestas bolsas, embora a papelada para se pedir a bolsa de estudos continue a aumentar. E depois existem as bolsas de investigação científica, que são aquelas bolsas pagas a quem está a fazer um doutoramento, ou pós-doutoramento ou pós-pós- doutoramento. Bem, esta gente na prática não são estudantes. Não, não são. Um exemplo prático. A tese de mestrado de uma aluna (paga pelos pais, suponhamos) levantou a questão de que a enzima x é essencial para combater a leucemia infantil. Então, essa aluna propõe-se a estudar esta enzima na esperança de encontrar uma cura para a leucemia infantil. Pede ao Estado uma bolsa de investigação científica e receberá, por mês, um valor (geralmente, em Portugal, são cerca de 980 euros) e estuda durante quatro anos essa enzima. Mas,  a cada ano, tem de apresentar provas do seu esforço para que lhe renovem a bolsa mais um ano, até completar os quatro. Imagine que a investigação permitiu avançar sobre a doença e agora são precisos testes. A aluna pede então bolsa de pós- doutoramento, para continuar a estudar a aplicação da enzima na vacina . Bem, isto não é um estudo, é um trabalho. Mas não se chama trabalho porque o Estado patrocina estas investigações através de bolsas e não tem capacidade de absorver estes investigadores nos seus laboratórios. Então, cada novo ano estes investigadores concorrem a estas bolsas até que algum laboratório ou empresa exterior os venha buscar e levar todo este saber para outro país. Mas a verdade é, que enquanto há bolsas, os investigadores preferem ficar por cá. Agora quando em 3433 candidatos, o Estado só atribui 308 bolsas, significa que os restantes 3124 bolseiros estão a parar as suas investigações e, muitos deles, irão sair do país. E talvez aquela aluna vá para os EUA onde a sua investigação vai ajudar a produzir a vacina contra a leucemia infantil.É por isso que isto das bolsas é tão revoltante. Porque não  é  apenas uma geração inteira que se perde, é todo um mundo de  saber que desaparece. No fim último, é o futuro que se vai embora.

O futuro dependerá daquilo que fazemos no presente.
Gandhi 

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