sábado, 22 de fevereiro de 2014

Estamos melhor.

Estou a ouvir com muita atenção o nosso Primeiro-Ministro, que continua com o seu sorriso irónico e vestido com aqueles fatos azulados que não lhe assentam nem bem nos ombros nem na cintura. E estou feliz, porque nós estamos muito melhor. Reparem bem: Em 2013, registaram-se 1539 insolvências nas empresas de construção civil, 1153 nas áreas dos serviços, 458 delas na área da restauração e hotelaria,1.035 insolvências no pequeno retalho.79% das empresas insolventes são microempresas com grande enfoque em actividades de ‘restaurantes tipo tradicional’, ‘cafés’”. Cerca de milhão e meio de portugueses estão emigrados, dez por cento dos quais com educação superior. Estes números fazem de Portugal o segundo Estado-membro com maior taxa de emigração (14,2 por cento) no espaço da OCDE, só abaixo da Irlanda (16,1). Mas estamos muito melhor.  Afinal o lucro da Portugal Telecom (PT) aumentou 46,6% em 2013, a EDP registou lucros de 792 milhões de euros, os resultados líquidos Pingo Doce cresceram para 165 milhões e a Sonae apresentou lucros de 40 milhões de euros em 2013. O que  nosso primeiro-ministro quis dizer é que alguns estão muito, mas muito melhor. Mas mesmo muito, muito melhor….

As pessoas importantes fazem sempre mal em se divertir à custa dos inferiores. A troça é um jogo, e o jogo pressupõe a igualdade.

Honoré de Balzac.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Cabeleireiro, depilação, ginecologista. A trilogia do horror!

Numa conversa recente com um amigo, este queixava-se de que ser homem é muito complicado, porque não se pode falhar no momento “H” (seja lá isso o que for) e a sociedade é muito injusta com os homens. Se não me desse tanta vontade de lhe bater, isto até poderia ter uma certa graça, mas não tem. Porque os meninos têm uma falha na hora H, nós temos toda uma trilogia de terror, por esta ordem: cabeleireiro, depilação, ginecologista!
Comecemos pelo cabelo: as "madeixas" são mesmo queimadas pelo sol e os brancos que aparecem são mesmo brancos e não uma tonalidade especial, nº 36  qualquer coisa. Os cortes que " não vai dar mesmo trabalho nenhum" dão ainda mais trabalho, o" só colocar gel" não funciona e acabamos sempre com uma gadelha com vontade própria e sem qualquer tipo de domínio. Quando saio à noite só espero que a minha personalidade ofusque o meu cabelo, o que nunca acontece. E quando esperamos mesmo que hoje aquele- apanhado-para-o-casamento-não cai-mesmo-porque-faz-parte da-toilette ele... cai!
Mas nada disto é comparável com aquele momento em que que estamos deitadas na maca da nossa esteticista e um bocado de cera a ferver é colocada sobre a nossa pele e,  de repente, um bocado de pano branco cai sobre a cera e a nossa querida esteticista , amada até ao momento, puxa aquele pedaço de papel e... Ai, Ai, dor, dor. Nada nos prepara para aquela tortura, mesmo que seja a centésima vez que passamos por ela. E sim, a depilação definitiva é quase definitiva, até ao momento em que vestimos um bikini e se nota que afinal o definitivo não é assim tão definitivo e vamos lá marcar uma torturita para tirar estes pelos que por aqui decidiram aparecer. E o resultado é: ai, ai, dor, dor.
E se nesta altura ainda nada vos chocou, a descrição da nossa consulta no ginecologista fica ao nível de um filme Hitchcock , mas com mais suspense, muito mais suspense. Ora bem, além de termos de ir com a depilação feita (senão é uma falta de respeito!), toda a conversa sobre a nossa vida  íntima ( só falta local e nome do perpetuador, porque de resto está lá tudo: quantas vezes, como, etc.) deixa-nos à beira de um ataque de nervos, e, para terminar o "exame" é tortura, humilhação pura. Não vou aqui descrever, mas envolve um objecto com nome de bico de pato!
Por isso, quando se diz que a vida das mulheres é uma maravilha, lembrem-se sempre da nossa trilogia de horror. E agradeçam por serem homens. É verdade que são menos inteligentes, mas também não se pode ter tudo!


quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Não consigo fazer um bolo! Arghhhhh

Ai, que coisa enervante. Não consigo fazer um bolo. Não consigo mesmo. Compro  os ingredientes que vêm na receita. Sigo aquela treta toda passo a passo. Barro bem a forma, mexo bem os ovos, " incorporo" suavemente as claras. Sou mais rígida que Estaline, mais autoritária que a Merkel nos tempos da cozedura. E depois sai-me a troika em forma de bolo: Incomestível, intolerável, irrascível. Se os meus queques fossem uma arma de demolição de dentes ou uma granada para atirar a alvos bem duros, seriam perfeitos. Para comer, ou sequer tocar, é que não. E olhem que o habitante cá de casa é boa boca e quando me vê a tentar fazer um bolo diz "deixa lá isso .E o pior é que para mim é como diz o Herman “ eu é mais é bolos”. Comê-los sim, fazê-los é que nem por isso!

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Esperança, não entres em coma e fica comigo por favor...

Quando eu era estudante, de História, já sabia que não ia existir emprego para mim. Já em 1998 existiam dificuldades em entrar para museus, câmaras ou empresas culturais. Dar aulas era a opção nº 1 mas na prática, sem ter o curso da via ensino, era a opção nº 1000.Mas existia em 1998 uma coisa que morreu em 2014: a esperança. Eu tinha esperança que as coisas mudassem, nós tínhamos esperança num Mundo melhor, num Portugal melhor. Passaram 12 anos e Portugal piorou, não de ano para ano, mas de mês para mês e de dia para dia porque deixamos de viver acima das possibilidades e passamos a viver no limiar na pobreza. O castigo que nos impuseram é enorme. E porque é que nos castigaram? Porque nos atrevemos a abrir empresas, a ir passar 15 dias de férias ao Algarve,   a colocar os filhos na Universidade, a diminuir a mortalidade das mães no parto, a diminuir os riscos para os filhos no momento em que vêm à vida. E a cuidar bem dos bebés nos primeiros anos de vida, com um programa de cuidados pré-natais únicos. E porque nos atrevemos a apostar na investigação científica com bons resultados e nos atrevemos a ir ao teatro, ao cinema, à dança. A economia sempre foi difícil neste país, mas não eramos castigados por sonhar. Só que na sombra, velhos poderes que não conseguem conceber um Mundo igual entre todos nós, esperaram a sua vez para sair das sombras e nos acusarem a todos de despesismo, de austeridade, até de imoralidade. Porque esta é, segundo muitos, uma crise de valores. Que isto de os pobres passarem a ser classe média é um valor que muitos não concebem, não aceitam. Mas aceitam-se valores como uma banca desregulada, controlada por essa gente de bem (que só o são por terem bens) que acumula valores materiais por não ter escrúpulos. E aceitam-se cortes nas reformas dos mais velhos, e aceitam-se cortes no subsídio de reinserção, que é o pão na mesa de muita gente. Mas não se baixam impostos para os pequenos empresários, não se acabam com os recibos verdes falsos, nem se tocam nos lucros das grandes empresas. Mas pior que tudo, esta gente matou-nos a esperança. E isto, a morte da esperança, mais do que tudo o resto que nos tiraram, não lhes podemos mesmo perdoar.
A esperança é o sonho do homem acordado

Aristóteles

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Direito ao meu descanso....

Não tenho por hábito me queixar do ritmo intenso da vida, porque francamente gosto de dias cheios e com muitas coisas. Estar em casa sem fazer nada dá-me cabo dos nervos e dou cabo dos nervos de quem me rodeia. Mas hoje, e só hoje, estou tão cansada que olho para a roupa que está a pedir para ir para a máquina e penso que até nem fica assim tão mal dentro do cesto. Se olhar bem, parece-me quase uma obra de arte contemporânea de Ken Wood. E a quantidade de emails que espera para ser respondida tem o seu charme e os telefonemas podem ser feitos amanhã. Não vou me vou desculpar com a necessidade de reflexão,nem com o direito ao descanso, porque não é nada disso que está em causa. O que quero mesmo é enrolar-me no sofá, assistir a má televisão e desligar um bocadinho o pensamento e todas as minhas inquietações. Mas só hoje, apenas só hoje. Porque amanhã é outro dia e amanhã é sempre tarde demais.

A preguiça é um pecado de certo modo são, porque incapacita o pecador para cometer outros.
Noel Clarasó.