Já aconteceu a qualquer um de nós: num momento de felicidade alguém diz qualquer coisa para nos deitar
abaixo. É tão certinho como chover no Inverno e ter dias de sol no Verão. A
felicidade alheia é das coisas mais difíceis de suportar, tão difícil que tem
de ser exterminada como uma barata numa casa limpa. Mas ninguém sofre mais com
a crítica social, muitas vezes envolvida numa piada infeliz ou num comentário
despropositado, como as pessoas activas e bem bem-sucedidas.
Tenho uma grande
amiga, daquelas pertinho do coração, que trabalha muito e bem e, mesmo assim,
sai muito à noite, vai muito ao cinema, ao teatro e, sacrilégios dos
sacrilégios, ainda viaja sozinha. Recentemente envolveu-se numa associação e
ainda ajuda os outros. Ora bem, estávamos no outro dia a comentar como é que
ela consegue, tem tanta energia e tal, e uma de nós diz:" ah é porque não tem filhos. Se tivesse, como
eu, não tinha tempo para isso". Curiosamente esta é mesma rapariga que
disse que esta minha amiga só fazia o que fazia porque ainda não tinha namorado.
E antes disso porque ainda não tinha emprego. Ora agora que tem namorado e
emprego, a culpa é dos filhos. Mas quando tiver filhos e continuar a fazer tudo
o que faz, a culpa será de quem?
A mesquinhez que nos
ocupa a vida não nos permite admirar a vida dos outros. Se eu não faço muitas
coisas a mim o devo. Ou porque não quero, ou porque estou cansada, ou porque
chove ou porque faz sol, mas só a mim me devo culpar. E irrita-me profundamente
quem despreza a vida dos outros só porque não tem tanta capacidade ou vontade
de ter a mesma vida. A inveja faz mal a nós e aos outros. Mas não haja dúvida
que as pessoas mais activas sofrem mais de inveja do que todas as outras.
E é pena.
O termómetro do sucesso é apenas a inveja dos descontentes.
Salvador Dalí
"o nosso maior inimigo somos nós"
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