quarta-feira, 26 de março de 2014

Se ela tivesse a minha vida, não fazia isso....

Já aconteceu a qualquer um de nós: num momento de felicidade alguém diz qualquer coisa para nos deitar abaixo. É tão certinho como chover no Inverno e ter dias de sol no Verão. A felicidade alheia é das coisas mais difíceis de suportar, tão difícil que tem de ser exterminada como uma barata numa casa limpa. Mas ninguém sofre mais com a crítica social, muitas vezes envolvida numa piada infeliz ou num comentário despropositado, como as pessoas activas e bem bem-sucedidas.
Tenho uma grande amiga, daquelas pertinho do coração, que trabalha muito e bem e, mesmo assim, sai muito à noite, vai muito ao cinema, ao teatro e, sacrilégios dos sacrilégios, ainda viaja sozinha. Recentemente envolveu-se numa associação e ainda ajuda os outros. Ora bem, estávamos no outro dia a comentar como é que ela consegue, tem tanta energia e tal, e uma de nós diz:" ah é porque não tem filhos. Se tivesse, como eu, não tinha tempo para isso". Curiosamente esta é mesma rapariga que disse que esta minha amiga só fazia o que fazia porque ainda não tinha namorado. E antes disso porque ainda não tinha emprego. Ora agora que tem namorado e emprego, a culpa é dos filhos. Mas quando tiver filhos e continuar a fazer tudo o que faz, a culpa será de quem?
A mesquinhez que nos ocupa a vida não nos permite admirar a vida dos outros. Se eu não faço muitas coisas a mim o devo. Ou porque não quero, ou porque estou cansada, ou porque chove ou porque faz sol, mas só a mim me devo culpar. E irrita-me profundamente quem despreza a vida dos outros só porque não tem tanta capacidade ou vontade de ter a mesma vida. A inveja faz mal a nós e aos outros. Mas não haja dúvida que as pessoas mais activas sofrem mais de inveja  do que todas as outras.
E é pena.

O termómetro do sucesso é apenas a inveja dos descontentes.

Salvador Dalí

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