Não gosto nada de ir à missa. Cada vez que tenho a infeliz
ideia de fazer mais um esforço, ou porque é um casamento ou um baptizado,
arrependo-me sempre de ter feito este esforço. Não ouço na missa nem a palavra
de Deus nem a palavra de Jesus. Só ouço um sermão sempre impregnado de
moralismos, frases feitas e ideias já muito batidas. A mais batida de todas é
aquela de que devemos " trabalhar " o casamento, não desistir do
casamento. Aparentemente inócua, eu pergunto-me se quem professa o sermão sabe
a história de cada casal e as suas razões para se separarem. Ou qual é o drama
de uma separação se isso os faz mais felizes, mais completos. Jesus não disse
grandes coisas sobre o casamento e não foi porque não teve tempo. Foi porque
outros valores se levantaram como o respeito pelos direitos humanos, a salvação
dos oprimidos ou a convicção de que somos todos iguais. Jesus não foi ao templo
dar uma palestra sobre trabalhar o casamento, foi sim acusar os donos da verdade
de que a sua verdade não era assim tão verdadeira. Eu questiono-me se quem dá a
palestra na Igreja sobre “trabalhar” o casamento pensa nas 40 mulheres
assassinadas este ano. Será que não trabalharam o casamento? Será que não foram
o espelho do outro? Será que não "ouviram", "sentiram" ou
"apoiaram" o outro o suficiente? Estas ideias aparentemente inócuas
fazem muito mal a uma sociedade que se quer livre, feliz, preenchida. E se cada
uma daquelas 40 mulheres não se tivesse sentido compelida a aceitar aquelas
relações um dia mais, se não se sentissem culpadas por não estarem à altura, se
a sociedade e a Igreja lhes tivesse dito VAI,
sai, estamos aqui para te acolher, talvez algumas delas ainda estivessem
vivas.
Com o critério com que julgardes,
sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também.
Jesus Cristo