“Em Portugal quem emigra são os mais enérgicos e os mais
rijamente decididos; e um país de fracos e de indolentes padece um prejuízo
incalculável, perdendo as raras vontades firmes e os poucos braços viris.”
Eça de Queiroz, Uma Campanha Alegre.
Gosto muito de Eça de Queiroz. Agrada-me o seu “dandismo”, a
visão desempoeirada da sociedade portuguesa e descrição das mais variadas
virtudes da nossa portugalidade. Mas não gosto nada da frase acima. Talvez (só
talvez) no século XIX esta frase fosse verdadeira, mas actualmente não o é. Em
Portugal emigram os mais rijos, os menos rijos, os mais energéticos e os menos
energéticos. Emigram os licenciados e os que só têm o quarto ano de
escolaridade, emigram os doutorados e os analfabetos, emigra quem pode para
escapar à precaridade e em muitos casos à miséria. Esta ideia de que ficam cá
os que podem, os que se “orientam”, também é de uma enorme injustiça. Ficam por
cá os que querem, os que ainda arriscam, mas também aqueles que desejam ficar e
viver neste país que é o seu. E desejar ficar e trabalhar cá não deveria ser a
excepção, mas a regra.
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