Quarta-feira e o impasse mantêm-se. Conseguirá a Grécia um
novo financiamento de que precisa para pagar salários e credores sem manter o
programa da troika? Nos últimos dias as redes sociais estão pró-Grécia ou anti
Grécia, como se de um jogo de râguebi ou de futebol se tratasse. Há
estatísticas para tudo e ouve-se que os gregos não querem pagar impostos e nós
não somos a Grécia e não temos de pagar a Grécia etc, etc. Mas ninguém debate o
ponto essencial: porque é que um empréstimo é dado com regras para os países
cumprirem? Explicando melhor. Cada um de nós já pediu um empréstimo na vida, é
quase certo. E quando pedimos um empréstimo para a casa, por exemplo, pedimos o
valor da casa e sabemos que vamos pagar esse empréstimo mais uma taxa de juro.
Ora bem, isso é justo. Agora imaginem que o banco vos dava o empréstimo,
cobrava os juros e ainda exigia decorar a casa, escolher os azulejos, decidir a
cor das paredes. Vocês admitiam? É exactamente isso que se está a passar agora nas
negociações entre a Grécia e no Eurogrupo. A Grécia quer um empréstimo de 4000
milhões de euros e sobre este empréstimo vai pagar ainda 1,9 mil milhões de juros.
Não é um mau negócio para o Eurogrupo pois não? Pois o Eurogrupo acha que não é
um bom negócio. O Eurogrupo exige que este empréstimo seja aplicado da forma
que eles querem que já se viu que deu péssimos resultados. Uma das medidas mais
desumanas aplicadas na Grécia foi esta: quem perdia o emprego e não encontrasse
um novo no prazo de 3 meses (sim, 3 meses) perdia também o direito ao subsídio
de desemprego e aos serviços de saúde. Imaginem-se nesta situação: ficavam
desempregados, em Portugal o subsídio de desemprego passava de um ano ou mais
para três meses e passados três meses ficavam sem subsídio e sem direito a
ficar doentes. Que vos parece isto? A Grécia suportou uma imensa catástrofe
social com fome, perda de casa, sem luz e a nível económico com as suas
exportações muito condicionadas. A Grécia disse não nas últimas eleições a
estes empréstimos com regras desumanas. E quer o mesmo que qualquer um de nós
quer: um empréstimo, juros e o seu direito a aplicar as medidas sociais mais
ajustadas para o seu país. Parece-vos irrazoável? Não, não é. Então quem tem
medo da Grécia? Quem tem medo da Grécia são todos os governos de direita que
nos disseram que não há alternativa. Quem nos disseram que vivemos acima das
possibilidades. Que resgataram bancos mas não pequenas empresas e deixaram
milhares de famílias em Portugal e por toda a Europa na miséria. E continuamos
a não ver qualquer futuro para o país, qualquer luz na Europa. Pelo contrário,
o anti-semitismo saiu das trevas onde devia ter ficado e os ataques à liberdade
sucedem-se. Quem tem medo da Grécia? O nosso governo é um deles. E é bom que
tenha. É tempo de mudar a política, é tempo de voltar a colocar o homem no
centro do mundo. Não temos medo da Grécia. Mas Passos deve ter. E muito.
Sem comentários:
Enviar um comentário