quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Quem tem medo da Grécia?



Quarta-feira e o impasse mantêm-se. Conseguirá a Grécia um novo financiamento de que precisa para pagar salários e credores sem manter o programa da troika? Nos últimos dias as redes sociais estão pró-Grécia ou anti Grécia, como se de um jogo de râguebi ou de futebol se tratasse. Há estatísticas para tudo e ouve-se que os gregos não querem pagar impostos e nós não somos a Grécia e não temos de pagar a Grécia etc, etc. Mas ninguém debate o ponto essencial: porque é que um empréstimo é dado com regras para os países cumprirem? Explicando melhor. Cada um de nós já pediu um empréstimo na vida, é quase certo. E quando pedimos um empréstimo para a casa, por exemplo, pedimos o valor da casa e sabemos que vamos pagar esse empréstimo mais uma taxa de juro. Ora bem, isso é justo. Agora imaginem que o banco vos dava o empréstimo, cobrava os juros e ainda exigia decorar a casa, escolher os azulejos, decidir a cor das paredes. Vocês admitiam? É exactamente isso que se está a passar agora nas negociações entre a Grécia e no Eurogrupo. A Grécia quer um empréstimo de 4000 milhões de euros e sobre este empréstimo vai pagar ainda 1,9 mil milhões de juros. Não é um mau negócio para o Eurogrupo pois não? Pois o Eurogrupo acha que não é um bom negócio. O Eurogrupo exige que este empréstimo seja aplicado da forma que eles querem que já se viu que deu péssimos resultados. Uma das medidas mais desumanas aplicadas na Grécia foi esta: quem perdia o emprego e não encontrasse um novo no prazo de 3 meses (sim, 3 meses) perdia também o direito ao subsídio de desemprego e aos serviços de saúde. Imaginem-se nesta situação: ficavam desempregados, em Portugal o subsídio de desemprego passava de um ano ou mais para três meses e passados três meses ficavam sem subsídio e sem direito a ficar doentes. Que vos parece isto? A Grécia suportou uma imensa catástrofe social com fome, perda de casa, sem luz e a nível económico com as suas exportações muito condicionadas. A Grécia disse não nas últimas eleições a estes empréstimos com regras desumanas. E quer o mesmo que qualquer um de nós quer: um empréstimo, juros e o seu direito a aplicar as medidas sociais mais ajustadas para o seu país. Parece-vos irrazoável? Não, não é. Então quem tem medo da Grécia? Quem tem medo da Grécia são todos os governos de direita que nos disseram que não há alternativa. Quem nos disseram que vivemos acima das possibilidades. Que resgataram bancos mas não pequenas empresas e deixaram milhares de famílias em Portugal e por toda a Europa na miséria. E continuamos a não ver qualquer futuro para o país, qualquer luz na Europa. Pelo contrário, o anti-semitismo saiu das trevas onde devia ter ficado e os ataques à liberdade sucedem-se. Quem tem medo da Grécia? O nosso governo é um deles. E é bom que tenha. É tempo de mudar a política, é tempo de voltar a colocar o homem no centro do mundo. Não temos medo da Grécia. Mas Passos deve ter. E muito.

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