Setembro, campanha eleitoral. Contavam-se os dias um a um,
uma cidade por cada dia sem esquecer Açores e Madeira. Distribuíam-se jornais
em todas as estações de metro onde houvesse vontade, davam-se papoilas para que
brotassem as ideias, falava-se da vida,de política e até do tempo a quem
parava para nos ouvir. E ouviam-se as histórias do costume, infelizmente as
histórias do costume :que o marido estava desempregado e o filho emigrado. Que
tinha de ir para casa tratar da mãe acamada. Que a reforma dos pais era o único
sustento da casa. Que a filha tinha tirado um curso e não tinha emprego. Ouvimos
tudo isto, quase todos os dias, entre a indiferença pela política porque são todos iguais e a raiva latente. Mas não ouvi uma ideia, uma proposta concreta,
uma tentativa de revolução. Que se passa com este país, o meu país, que deixa
na mão de outros a decisão sobre as suas vidas? Não pode ser a velha desculpa
do salazarismo, não pode ser a velha desculpa de uma moral católica. Não pode
ser porque aqui ao lado nuestros hermanos
saem às ruas e viram o voto para partidos que lhes dão propostas de esperança.
E aqui, neste cantinho que nem ser é plantado à beira-mar, a indiferença
permanece como a bruma nos dias de nevoeiro. Até que algo abana a ordem
estabelecida. Pela primeira vez coloca-se a hipótese de um governo de coligação
de esquerda onde os votos contam. Onde o eleitorado de esquerda acredita que é possível
governar. Foi o LIVRE que lançou a semente, mas não foi o LIVRE que colheu os
frutos. Que importa isso? Absolutamente nada. O que importa é esta
possibilidade de esperança, esta pedra no charco, este abanar das instituições.
Talvez seja o momento em que se quebre a apatia, em que se respeite o voto de
todos, onde seja possível quebrar o arco da governação. E se em Setembro os
dias foram contados um a um, agora são as horas e os minutos. Porque é a
política e as suas ideias a única garantia da democracia e de liberdade, seja qual
for o resultado destas eleições. Sem medo. Sem medo. Sem medo.
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