segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Sem medo, sem medo, sem medo.

Setembro, campanha eleitoral. Contavam-se os dias um a um, uma cidade por cada dia sem esquecer Açores e Madeira. Distribuíam-se jornais em todas as estações de metro onde houvesse vontade, davam-se papoilas para que brotassem as ideias, falava-se da vida,de política e até do tempo a quem parava para nos ouvir. E ouviam-se as histórias do costume, infelizmente as histórias do costume :que o marido estava desempregado e o filho emigrado. Que tinha de ir para casa tratar da mãe acamada. Que a reforma dos pais era o único sustento da casa. Que a filha tinha tirado um curso e não tinha emprego. Ouvimos tudo isto, quase todos os dias, entre a indiferença pela política porque são todos iguais e a raiva latente. Mas não ouvi uma ideia, uma proposta concreta, uma tentativa de revolução. Que se passa com este país, o meu país, que deixa na mão de outros a decisão sobre as suas vidas? Não pode ser a velha desculpa do salazarismo, não pode ser a velha desculpa de uma moral católica. Não pode ser porque aqui ao lado nuestros hermanos saem às ruas e viram o voto para partidos que lhes dão propostas de esperança. E aqui, neste cantinho que nem ser é plantado à beira-mar, a indiferença permanece como a bruma nos dias de nevoeiro. Até que algo abana a ordem estabelecida. Pela primeira vez coloca-se a hipótese de um governo de coligação de esquerda onde os votos contam. Onde o eleitorado de esquerda acredita que é possível governar. Foi o LIVRE que lançou a semente, mas não foi o LIVRE que colheu os frutos. Que importa isso? Absolutamente nada. O que importa é esta possibilidade de esperança, esta pedra no charco, este abanar das instituições. Talvez seja o momento em que se quebre a apatia, em que se respeite o voto de todos, onde seja possível quebrar o arco da governação. E se em Setembro os dias foram contados um a um, agora são as horas e os minutos. Porque é a política e as suas ideias a única garantia da democracia e de liberdade, seja qual for o resultado destas eleições. Sem medo. Sem medo. Sem medo.



Sem comentários:

Enviar um comentário